#TomeTheMovie

Depois desta pausa super longa, voltamos com uma notícia super boa...
Foi hoje filmado o Teaser do #TomeTheMovie :) com muito amor. 


Foi lindo ver as Joanas e a Rita trabalhar em conjunto com o Gonçalo, uma dança harmoniosa e mágica.
Grandes e belas coisas vêm aí. Inspiradas pelo Tomé só podia ser assim.

Em breve mais notícias e deixo-vos com uma imagem e com um texto lindo da nossa Isabel Valente.



Todos nascemos com asas mas, se forem sendo cortadas,
quando chegamos à adolescencia podemos cair ao tentar voar.

ADOLESCÊNCIA
por Isabel Valente

A adolescência é, muitas vezes, a última oportunidade para preservar a alma: a bondade, alegria, confiança, autenticidade e compaixão com que todos nascemos.
Entendam-me: nenhuma alma se perde alguma vez para sempre mas, se a formos e no-la forem consecutivamente agredindo, violentando e encarcerando, desde a conceção e o nascimento, ao longo da infância e na passagem para a vida adulta, em casa, na escola, na família, na comunidade, pode custar muitos anos de luta, desespero, más opções e dinheiro gasto para finalmente a conseguir recuperar. 

Falo de dinheiro e não posso deixar de o fazer, porque desafortunadamente muitos decisores apenas se debruçam sobre uma questão quando compreendem o impacto económico que tem, teve ou pode ter. Se assim é, falo então essa linguagem que mais facilmente é entendida por alguns. E falo dos custos do aniquilamento da alma. Custos monetários para o próprio e para a sociedade, em terapias, medicação, ausências do trabalho, improdutividade ou baixa produtividade, isolamento, desinserção social, incapacidade de relacionamento, prisão, medidas de reabilitação. Tudo isto tem custos financeiros diretos ou indiretos, suportados pelo próprio e/ou pelo Estado, que, como sabemos, somos todos nós.

Ninguém é, assim, alheio à morte da alma e aos seus custos, mesmo os afortunados que tiveram uma conceção, nascimento, infância e adolescência privilegiados pelo afeto, abundância, respeito, dignidade, liberdade, paz e compaixão. Todos somos chamados a pensar e agir por uma sociedade mais amorosa, justa e compassiva, onde cada um encontre lugar e oportunidade para expressar e realizar o seu potencial e a sua verdade, onde todos possam ser autênticos, com o que têm de comum com o outro e com o que os torna únicos. Um espaço de vida e plenitude.
A adolescência é, muitas vezes, o momento em que perdemos. Nos perdemos a nós próprios, perdemos os nossos filhos, perderam-nos eventualmente os nosso pais um dia a nós. A encruzilhada em que tantos desistem, pais, filhos, professores, comunidade. Em que nos atiramos ou nos atiram para uma gaveta que nos condena a viver segundo rótulos que diminuem e incapacitam em vez de fortalecer e potenciar: revoltado, idealista, irrealista, imaturo, agressivo, inadequado, com défice de atenção, com desordem disto e daquilo, bipolar, depressivo, maníaco-depressivo, dependente, fraco, incapaz, inconveniente. Sobram os nomes para chamar aos outros, falta a atenção, o tempo, o conhecimento e a compaixão.

Num tempo em que, enquanto adultos, devíamos fazer o nosso melhor para fortalecer os adolescentes, na sua transição para a idade adulta, no momento em que despertam para o pensamento crítico, a justiça social, em que começam a manifestar a sua potência de ação no mundo, nesse momento precioso e fulcral da adolescência, é muitas vezes quando pais e educadores sucumbem aos seus próprios medos, frustrações, fantasmas e medos, os que trazemos das nossas próprias vidas imperfeitas, agredidas e sobrecarregadas. Quem nos pode censurar, filhos de gerações cansadas, oprimidas e de tantas formas desesperadas? 

Os adultos precisam de apoio, para serem melhores pais de adolescentes. Para capazmente lhes darem a mão na sua passagem para a vida adulta e conseguirem continuar ao seu lado, desse outro lado do espelho que poucos dizem ser maravilhoso mas que felizmente alguns continuam a acreditar que também o é. É preciso coragem para ser pai e educador de adolescentes. Para estar ao lado deles na preservação da sua alma. Mas tanto depende disto que vale a pena reunir forças. Encontrar apoio uns nos outros, entre adultos e com os nossos adolescentes. Abrir-lhes a porta para que se dêem a conhecer, suspender o medo e a desconfiança, que é muitas vezes medo e desconfiança da potência que um dia tivemos e perdemos, medo e desconfiança da perda de controle perante um filho ou aluno que cada vez menos podemos ter debaixo da nossa asa protetora e temos receio que se perca.

Se é preciso coragem para ser pai e educador de adolescentes, não é preciso menos para ser adolescente. Enfrentar a mudança e a incerteza, o desconhecido e a oposição tão facilmente encontrada. Sobretudo, é preciso coragem para ser adolescente numa sociedade que representa este período da vida como um mal necessário, um desconforto pelo qual todos temos que passar antes de nos tornarmos adultos, ordeiros, obedientes e ganhadores de dinheiro adultos. Mas será esse o melhor caminho? Será esse o único caminho? Não podemos nós ver e viver a adolescência como o precioso momento de terminar de equipar a alma para a sua ação no mundo? Para nos construirmos como agentes de mudança positiva? O momento imperdível em que, ainda com um pé na infância e outro na idade adulta, podemos garantir que não nasce mais um adulto amargurado, descrente e esvaziado do seu sentido de cidadania e poder? 

Eu acredito que assim é. Que a adolescência é esse último bastião da alma. O período fulcral de formação de uma pessoa em que ganhamos ou perdemos, a nós e ao mundo. Uma fase que vale a pena acarinhar e proteger, porque é ainda o tempo em que é possível prevenir para mais tarde não ter que remediar.

Este documentário serve para isso: através da representação no ecrã da história real do Tomé, um adolescente que morreu de acidente aos 18 anos, depois de um período de comportamentos de risco e outras manifestações de sofrimento a que a sociedade não conseguiu dar resposta a tempo, através da partilha daquilo que viveu e deixou de si, dar um passo no sentido de alertar e capacitar para a proteção à adolescência e a urgência dela, um passo para a criação de um discurso empoderador sobre a adolescência, que nos ajude a salvar a alma coletiva das sociedades humanas.


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