Brinquedos de adultos

Memorial a John Lenno no Central Park,
a t-shirt do Tomé e as nossas fotos. Imagine...
As coisas mudam. Durante quase dois anos escrever era compulsivo, cheguei a levantar-me da cama porque tinha tantas imagens às voltas na cabeça que simplesmente era impossível dormir antes de as partilhar no bogue. Nos últimos meses escrever tem sido difícil, quase impossível. Uma necessidade de privacidade que antes não tinha, de entrar num casulo e hibernar.

Esta hibernação da escrita não foi no entanto uma ausência de acção, muito pelo contrário. 

Nestes meses o projeto do Tomé nas escolas - o Sê Aprendiz de Quem te Sabe Fazer Feliz - avançou do sonho para a realidade, com tudo o que isso implica. 
Esta semana será a primeira sessão com a turma piloto, depois de quase um ano de preparação. 

Também o documentário sobre a adolescência a partir dos textos do Tomé está a tomar forma: esta semana o Teaser que vai ser o primeiro passo para a campanha de crowdfunding para financiar o projeto estará pronto e vai ser apresentado a um pequeno grupo, em breve vou convidar-vos também para o verem. 

Sonhos que começam a concretizar-se. Asas que se abrem. Intuições de que era possível que se concretizam e ao mesmo tempo a realidade coloca os seus limites. As asas precisam de raízes, com raízes não voamos tão alto tão rápido, mas também não nos perdemos. 

E isso tem-me levado a reflectir sobre a natureza dos sonhos, e a forma como eu - e se calhar não só eu - fuji tantas vezes de os concretizar, desisti às primeiras contrariedades, ou simplesmente sonhei baixinho. 

Uma das razões tem a ver com a quedas dos anjos... simbólica. Os sonhos não têm outra regra nem outra limitação que a nossa imaginação enquanto ficam dentro da nossa cabeça. Assim que os partilhamos e os tornamos concretos, são como os brinquedo novos que com o uso deixam de ser reluzentes e começam a ter marcas do uso. Os sonhos quando se usam, lascam-se, apanham nódoas, ficam arranhados nos lados, mas isso é porque passam a ter uma história e prova que serviram para alguma coisa. Um sonho que não permitimos sair da nossa cabeça mantém-se perfeito como um brinquedo dentro da caixa, mas não toca ninguém, nem é tocado, serve para admirar mas não para usufruir. Um sonho que sai para o mundo perde a perfeição mas ganha vida. Não é indolor para o sonhador, mas com o tempo, os tais brinquedos/sonhos ganham em amor o que perdem em brilho. 

Um brinquedo na caixa admira-se, mas um brinquedo que já usámos mil vezes ama-se, começa a fazer parte de nós de uma outra maneira, cada marca é uma memória de uma experiência partilhada, ao fim de um tempo já não é só um brinquedo é uma parte da nossa história e está repleto de todas as emoções que sentimos enquanto brincámos. 

Gosto desta comparação dos sonhos com brinquedos porque acho que transformar sonhos em projetos é a melhor brincadeira das pessoas crescidas, basta ver como nos apaixonamos por eles, nos esquecemos do tempo quando nos envolvemos de alma e coração neles. Há quem lhe chame fluxo, esse estado de imersão e enlevamento que acontece quando nos envolvemos num processo ao ponto de nos esquecermos do tempo e sairmos do processo cansados mas felizes. Lembram-se dessa sensação na infância, depois de um dia de brincadeira? 

Então estes dois sonhos: o Sê Aprendiz e o Tomé The Movie aqui vão, a começar a ganhar marcas de uso aos poucos, a tornarem-se menos perfeitos mas muito mais especiais. 
O que me toca mais, o que me comove é ver o quantas pessoas direta ou indiretamente o Tomé já motivou para sonhar com ele. 
O que me deixa espantada é perceber que o que senti logo lá no inicio desta vida depois da morte dele, estava certo. É ver que o que surgiu, logo nos primeiros momentos, onde supostamente estaria fora de mim, foi das coisas mais dentro de mim que alguma vez senti. 

Há umas semanas estive em Nova York, fui ser voluntária numa formação que precisava de cobaias. Ir a Nova York não estava nos meus planos, tinha até pensado para mim que nesta vida já não tinha intenção de atravessar o Oceano, bastou isso para a vida me desdizer. 
O que me motivou a ir, foi a necessidade de me reorganizar nesta nova vida a longo prazo sem/com o Tomé. Que mudanças quero fazer? O que fica o que vai? Onde viver? Quais são as prioridades? O que me faz sentido agora (ia escrever feliz, mas questiono-me se ser feliz é mesmo uma intenção ou só uma consequência)?
 E o mais importante de tudo foi compreender que mais uma das coisas que "ouvi" e que tanto questionei está certa. "Nunca mais vais estar sózinha". Não é que nunca mais me vou sentir sozinha, mas nunca estou sózinha, onde quer que esteja, em qualquer momento, sempre que procuro o Tomé ele está comigo. Tenho saudades de muitas coisas com o Tomé, das conversas, das brincadeiras, e mais do que tudo das parvoices e de nos rirmos juntos os dois e os quatro, com a Bianca e o Isac. Mas não tenho saudades do Tomé, porque me sinto tão próxima dele como sempre. E quando mudei de continente, ele estava ainda mais presente, ainda mais próximo. Vamos sonhando e realizando juntos, brincando juntos com a realidade, que afinal como dizia o Tomé é um conceito vago. :)

Tirei uma foto da t-shirt do Tomé no memorial ao John Lennon, os dois adoravamos a sua musica. E tem tudo a ver, imagine é onde tudo começa...

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