Beleza Colateral



Há alguns meses foi convidada para apresentar o filme Beleza Colateral, foi uma grande alegria e uma coincidência incrível uma vez que estávamos a começar a trabalhar no Documentário sobre o Tomé. 


Na sequência desse convite, veio uma entrevista à Delas.pt de que fica aqui um excerto.

Delas - O que vem este filme trazer de novo?

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O Beleza Colateral aborda temas difíceis de uma forma delicada e com sentido de humor, não sei de nada mais precioso em situações dificeis do que isso. Mostra-nos que a tristeza e a dor são reais, mas que ao lado delas podem coexistir muitas outras emoções, incluindo a alegria e a esperança. E para mim é isto que o filme traz de precioso.

Também faz uma coisa que me encanta, personifica a morte não como algo a temer, mas como uma simpática senhora de uma certa idade, uma amiga, compreensiva e até divertida, sábia, às vezes um pouco vaidosa, mas tudo menos assustadora.

Delas - Também perdeu um filho. Como se identifica com o Beleza Colateral?

Eu não perdi um filho, o meu filho Tomé morreu. Não é a mesma coisa. Não me esqueci dele no supermercado, nem me caiu do bolso sem dar por isso, morreu. Há uma frase muito bonita do Mitch Albom: "A morte é o fim da vida, não do relacionamento." O relacionamento não se perde.

E isso está no filme, a forma como perder e encontrar se misturam e o conceito de que estamos todos ligados, que essa ligação não tem que terminar com a morte. O amor é muito mais forte do que a morte, mais forte do que a dor. A única coisa mais forte. Basta olhar à volta ou olhar para dentro para saber isso. Continuamos a amar quem já morreu, e esse a amor pode criar muita beleza, beleza colateral. 

Este convite para apresentar o filme e para esta entrevista é um exemplo da magia que tem estado ligada ao Tomé, que me dá força. Ao falar com outros pessoas que passaram pela morte de pessoas muito próximas, estes exemplos repetem-se tão frequentemente.

Delas - Que atitudes podem os pais tomar para aprenderem a lidar com essa dor?

A principal coisa que os pais podem fazer para viver o luto, em todos os seus aspectos, que vão muito para além da dor, é não seguirem os conselhos de ninguém... neste caso nem os meus...

O luto  por um filho, é visceral, é único, para cada um é uma história completamente diferente. Não se pode racionalizar, conter ou domesticar. O que posso dizer aos pais que passam pela morte de um filho é que têm direito de seguir o seu instinto, mesmo que pareça louco, sobretudo se parecer louco, desde que não coloquem em risco, nem a si nem a outros, que fazer loucuras nestas alturas pode ser a única forma sã de reagir.

O luto acontece na sequência de uma história em curso: a relação entre pais e filhos conta, a relação de cada um consigo próprio, com a sua família, com a sua profissão conta. Cada um vai enfrentar desafios diferentes, cada um vai fazer um caminho diferente, estão todos certos. 

Se alguém vos quiser ensinar como fazer o luto  por um filho, têm o direito de
​se zangar,
  de reagir como vos apetecer, sem pensar em boa educação, ponham as unhas de fora e soltem o vosso rugido se for isso que ajuda, batam a porta, desliguem o telefone, chamem-lhe nomes. O luto é um passeio no arame, um equilibrio extremo, e ninguém tem o direito de abanar o fio.

A mim ajuda-em continuar em relação com o meu filho. Permitir-me continuar a amá-lo e a fazer coisas por ele, para ele todos os dias. Dizer o seu nome, mesmo quando os outros se sentem incomodados. Encontrar pessoas que não se sentem incomodadas e que gostam de falar sobre ele comigo. 

Escrever alivia-me e ajuda-me a organizar. Iniciamos um projeto para adolescentes,  inspirado nos sonhos do Tomé, demos-lhe como nome a frase do seu texto "Sê aprendiz de quem te sabe fazer feliz" e estamos a fazer um documentário sobre a adolescência baseado nos seus textos. Estas foram as que escolhi porque eram as que tinham a ver comigo e com o Tomé, com o que nos ligava e continua a ligar, a vontade de haja mais bondade e honestidade no mundo.

Se há algum conselho que possa valer a pena é o de que procurem aquilo que vos faz sentir
​vivo ​
o vosso amor pelo vosso filho ou filha. O amor sufocado mata-nos por dentro, faz-nos perder a alma. O amor pelos nossos filhos precisa ser vivido. O vosso amor não morreu com eles, disso tenho a certeza e suspeito, apenas suspeito que o deles por vocês também não. 

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