De volta


Tenho andado a fugir deste blogue a sete pés e a encontrar desculpas atrás de desculpas para adiar escrever. Foram quase quatro meses. Poderia dizer que evito escrever porque os meus sentimentos não têm andado muito claros ou porque os temas não aparecem e também seria verdade. Mas o essencial é ter medo das consequência de expor a minha verdade. E porque é que tenho medo de expor a minha verdade? Porque já correu mal muitas vezes.
Sou uma daquelas pessoas que em criança tendia a dizer coisas inconvenientes e a fazer perguntas incómodas. Também sou uma daquelas pessoas que tendiam a ter sentimentos que incomodavam os outros - parece que somos muitos.

Uma frase que ouvi muito foi: "Cala-te, não arranjes problemas." e a mensagem não deixava dúvidas, dizer a verdade pode causar problemas. Outra versão da mesma seria "Cala-te, não me arranjes problemas." O que duplicava a questão, não só eu podia prejudicar-me a mim, o que ainda assim era uma decisão que poderia tomar, como ainda por cima ia prejudicar outras pessoas "só" pelo facto de expressar os meus sentimentos ou de compreender o que me rodeava. Ao medo juntou-se a culpa. Por sentir e por pensar coisas inconvenientes para os outros.

"Tudo aquilo de que não se pode falar,  não pode ser resolvido. E se não for resolvido, as feridas vão passar de geração em geração."    
Bruno Bettelheim
A melhor forma de calarmos o que não queremos ouvir é mesmo essa, invalidar, ridicularizar, amedrontar, culpabilizar. E no fim a cereja em cima do bolo é acusar a vitima de se vitimizar, de exagerar ou de estar maluca. Assim o agressor fica a rir e a vítima paralisa. É a essência do Bullying.


Hoje fala-se muito do bullying nas escolas, hum.... fala-se muito do Bullying entre crianças e adolescentes. Ainda se fala pouco do Bullying dos adultos em relação às crianças, dos pais, dos professores e não só. Porque convêm relembrar que é um comportamento aprendido. 

Pode ser aprendido porque se sofre dele ou porque vemos outro a sofrer e não queremos ficar nesse papel. Chama-se 'identificação com o agressor', defender-se de ser agredido reproduzindo o comportamento de um agressor. A reacção natural perante uma agressão é empatia, e a acção natural defender a vítima, mas, quando temos medo de ser a próxima vítima, a empatia é suplantada pelo medo e aliamos-nos ao mais forte.

Por isso é tão arriscado falar do que não se fala e ver o que não é suposto ver. Mas ainda assim vale a pena correr o risco. Por isso estou de volta. Para arriscar ir mais longe. 





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