Dia de Los Muertos



No melhor dos mundos queria ter tido tempo hoje para escrever alguma coisa especial para o Tomé no Dia de los Muertos (gosto muito mais da tradição mexicana do que da nossa). Acabei por não conseguir mas estou contente. Estive em carne e osso com pessoas com quem partilhei coisas tão pessoais e que me falaram de si e também do Tomé.
Dei por mim a pensar ontem numa coisa bela e dolorosa, sinto-me mais inteira do que antes da morte do Tomé. Enfrentei muitas partes de mim que nunca tinha conseguido enfrentar antes. Todos os dias olhos os meus piores medos nos olhos: encontro as minhas sombras, a sombra da mãe magoada que magoa, a sombra da mulher que tem medo de homens e projecta esse medo no filho, a sombra da mãe que não se respeita e não sabe ensinar isso ao filho, a sombra da mãe solitária que toma o filho como o melhor amigo, na maior parte das vezes choro, mas não desisto.
Chorar tornou-se uma parte tão presente na vida, uma bênção, depois de um momento de choro vem sempre paz. É quando tento não chorar que me afogo nos meus fantasmas.
Ontem desci para passear o cão e comecei a soluçar no elevador continuei durante o passeio. é fácil, basta evitar as pessoas e quando me cruzo com elas respirar normalmente e manter os olhos no chão. É bom chorar ao ar livre. Como o Tomé dizia tão pequenino "Mãe eu sei que chorar faz bem."
Finalmente é engraçado, quando desisti de escrever um texto, acabei a escreve-lo.
Tenho perdido mesmo o medo de sentir o Tomé comigo. Não tenho medo por mim, tinha medo por ele, medo de o estar a prender. Ultimamente decidi que não vou controlar mais isso, o meu coração há-de saber melhor. Não acredito que o amor faça mal a alguma alma. Quando o sinto perto é uma sensação tão forte de luz e amor, uma sensação que identifico tanto com a presença dele quando estava bem consigo. Comove-me sempre e traz-me uma alegria muito inexplicável. É uma espécie de porto seguro onde me sinto eu. Lembro-me agora da frase que ouvi depois da morte dele.
Quando entrei no meu quarto e de repente me horrorizei com a solidão que ia passar a sentir, ouvi a voz do Tomé dizer: "nunca mais te vais sentir sozinha" Não foi bem verdade porque muitas vezes me senti sozinha sim, mas só por causa de hesitar aceitar esta ligação. É engraçado como ao escrever as coisas se encaixam. Acho que era isto mesmo que ele queria dizer, só faltava perder o medo. A ligação sempre esteve aqui.

Deixo-vos um filme lindo sobre o tal Dia de los Muertos, um filme sobre perder o medo, festejar e dançar entre dois mundos. 

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