Abrir caminho com os dentes...



Já não venho aqui escrever há muito tempo. Não queria deixar tanto tempo em vazio. Quando o Tomé caiu, procurei blogues e sites de mães e ficava super preocupada quando via que já não escreviam há muito tempo. E não quereria deixar outras pessoas na mesma angústia. Estou aqui, dorida mas não desistente.

Têm sido tempos confusos e solitários. E não vou photoshopar as minhas emoções.
É irónico. Todo o trabalho na direcção de reconstruir o sentido de comunidade e a capacidade de cuidarmos uns dos outros e parece que não fui suficientemente eficiente, eu já preciso disso agora e ainda não há... 

Estou triste, e sinto-me desiludida. Não tenho dúvidas de que vou reencontrar a minha força, bater com os pés no fundo do poço, mas agora é o que é. Adoro os meus amigos, no entanto também eles têm mais do que lhes cabe nas mãos, as famílias, os seus próprios projectos, as suas próprias dores e sonhos. As suas solidões. 

Estou agora mesmo a teclar com a Rita, a madrasta boa do Tomé, ela confia em mim muito mais do que eu e acha que "ainda vou por muita luz no mundo sobre o luto e a perda". Eu leio e sinto que estou farta de abrir caminho com os dentes... de iluminar o caminho que percorro às escuras, mas depois lembro-me que anda aí muita gente a fazer o mesmo por mim, e o quanto eu devo e estou grata a essas pessoas e às suas partilhas.
Neste momento a energia só chega para manter os serviços mínimos a funcionar. Coisas boas estão quase a acontecer, mas custa-me a acreditar que vão mesmo acontecer. Tenho medo de acreditar e me magoar outra vez. Talvez por isso não quero ainda partilhá-las aqui.

Ao fim deste tempo todo é agora que sinto os meus sentimentos embotados. Sinto que tenho reprimido tanto o curso natural do meu luto, que já nem sei o que ele seria, . Não há espaço para lutos, não na minha vida em particular, mas no mundo. É isso que tenho compreendido ao ler tantos outros que sentem o mesmo que eu em tantos sítios diferentes.

Preciso de chorar, todos os dias, nos dias em que não choro fico morta por dentro, apagada, entupida. Encontrei um artigo lindo que explica que as lágrimas são diferente consoante a emoção que as provoca. Lágrimas de saudade, são diferentes das de raiva, das de alegria. Cada uma com a sua composição própria.

De modos que não estou a conseguir gostar do mundo. Não sinto que foi Deus, nem o destino que provocou a morte do Tomé, por mais infantil que pareça acho que foi a desumanidade do mundo, que transformou o Tomé de uma criança tão otimista e cheia de luz, num adolescente magoado e desiludido. Não me digam que é normal na adolescência, que todos passamos por isso... olhem para os adolescentes das tribos e digam-me se é isso que vêm. A adolescência devia ser uma das fases mais maravilhosas da vida, cheia de aventuras e sexo e não só de riscos.

E pronto como uma otimista absurda, ainda me atrevo a pensar que o momento mais escuro é antes da alvorada. Que talvez agora que já não sinto forças, vais surgir ajuda, como sempre surgiu. Uma parte de mim resmunga que não, que com o Tomé não surgiu, que pedi tanta ajuda e não chegou a tempo. Mas vou deixar essa parte ter o seu lugar, mas não ocupar o espaço todo. 

Muitas coisas boas podem estar quase a acontecer, torçam por elas comigo. E mais uma vez obrigada por me susterem quando me sinto mais perdida, tem feito toda a diferença. Sem este blogue e os que o lêm, não me parece que conseguisse.






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