Lançamento de balões para o Tomé
Ontem o texto da Bianca fez-me pensar nisto e deu-me vontade de ir buscar este texto. As coisas mudam, os sentimentos mudam, não fica mais fácil com o tempo, fica diferente. Há medida que o "estado de crise" vai suavizando e as pessoas à volta vão seguindo com as suas vidas, e nós também continuamos a viver, eu necessito de novas formas de manter a memória e o amor pelo Tomé na minha vida, na vida da familia, da de sangue e da outra.
Num destes domingos juntámos-nos para lançar balões chineses para o Tomé. Nestes balões cada um pode escrever aquilo que desejava poder dizer-lhe pessoalmente. Uma parte do que ficou por dizer... Este lançamento de balões teve uma intenção da minha parte e aqui está ela, o que foi dito na altura sem pensar saído do coração, se repararem bem nas fotos vão ver que a última imagem foi um sorriso, vêem? :
"Queria propor uma intenção, porque há uma intenção por trás do
lançarmos os balões, que é honrar a viagem, acompanhar a viagem do Tomé para onde
quer que ele tenha ido.
Quando alguém vai para uma viagem, mesmo que queira
muito ir para o outro sitio, leva também o que deixa para trás no coração. Quando alguém que nós gostamos vai viajar, por
um lado, ficamos felizes por essa pessoa seguir o seu caminho, por outro, ficamos tristes porque nos vai fazer falta. E é importante sermos capazes de
viver com as duas coisas. Não precisamos de deixar de sentir a tristeza para
sentir a alegria, nem precisamos de deixar de sentir a alegria para sentir a
tristeza. As duas podem estar juntas connosco, e é isso que eu queria trazer
aqui, a possibilidade de vivermos estas duas coisas, a tristeza da
partida do Tomé e a alegria da presença do Tomé e do que ele deixou connosco. E também a alegria da possibilidade de que o
Tome esteja a seguir o caminho
dele e esteja bem.
Ao mesmo tempo também chega o momento, em que é
importante seguirmos a nossa vida sem esperarmos que o Tomé esteja connosco. Porque o Tomé já não tem um corpo físico para partilhar connosco e ele tem que estar no sitio certo para ele. Quando as almas não sobem tornam-se fantasmas e nós não
queremos um Tomé fantasma, queremos um Tomé livre.
Então estes balões simbolizam deixar o Tomé partir, não nos
agarrarmos a ele porque ele precisa do espaço dele para poder seguir para onde
quer que vá, e nós vamos sempre saber que ele está nas nossas memórias e
no nosso coração. E com um bocadinho de sorte pode ser que ele consiga dar-nos
notícias…
Mais tarde ou mais cedo também nós vamos atrás dele, então não há
pressa, uma vida é um instantinho e se nós conseguirmos viver a nossa vida com mais
dignidade e com mais presença por ele ter estado nela, isso já faz com
que tudo valha a pena.
Hoje uma pessoa veio falar-me de culpa, muitas pessoa me têm
falado de sentirem que têm culpa. E é claro que seria fácil
dizer que ninguém teve culpa. Mas, todos nós tivemos
talvez nem que fosse um grão de responsabilidade, responsabilidade é diferente de culpa, culpa implica um castigo e quer dizer que nós temos que
sofrer porque não fizemos tudo o que podíamos ou tudo o que seria o ideal. Responsabilidade é conseguirmos olhar e perceber o que podíamos ter
feito e não fizemos e, daqui para a frente, termos a coragem de fazer o que deve
ser feito, em vez de fazermos, o que é mais fácil. E mantermos-mos
vivos, não nos deixarmos tornar zombies. Sermos vivos em
honra do Tomé porque o Tomé esteve sempre vivo, sempre viveu de coração aberto. É difícil viver de coração aberto, mas se formos muitos
podemos apoiar-nos uns aos outros.
Esta questão da responsabilidade é muito importante, se não tomamos responsabilidade não conseguimos
crescer. E esta responsabilidade não tem que ser um peso, pode ser um agradecimento, gratidão de
podermos aprender seja de que maneira for a tornar a nossa vida mais
autêntica e significativa
Se não fosse o Tomé ter partido nós nunca estaríamos aqui
e se calhar não tínhamos a relação que temos tido ultimamente, mesmo nas coisas
piores há sempre qualquer coisa de bom, quanto maior for o bom, mais pequeno
vai parecer o mau.
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