O Clã da Cicatrizes


O Clâ das Cicatrizes é um capitulo de um livro chamado Mulheres que Correm com os Lobos da Clarissa Pinkola Estés, que fala sobre a natureza selvagem das mulheres, e o valor das cicatrizes ganhas em combate. Quero agradecer ao meu Clã das Cicatrizes, um grupo especial de mulheres, que entrou na minha vida tudo menos por acaso e a mudou de muitas maneiras. 
É um grupo virtual, com mulheres muito diferentes, temos em comum acreditarmos que o mundo está cheio de magia e encantamento, apesar de já termos passado por muito e todas termos marcas de combate. Um grupo onde se fala do coração e se ouve do coração, a maior parte do tempo (ok não é  um grupo de santas... ) É um espaço santuário, onde cada uma tem lugar e todas partilham a sua sabedoria e apoiam o crescimento umas das outras.
Um lugar de mulheres poderosas e vulneráveis que se entreajudam emocional e até económicamente.

Tenho aprendido muito sobre mim, sinto lá segurança, posso dizer quase tudo e mostrar-me fragil. Não é fácil para uma pessoa um pouco amalucada e insegura como eu encontrar um sitio onde pode apoiar-se num ombro amigo a qualquer hora do dia ou da noite.

Estamos tão longe fisicamente umas das outras dos outros mas a nossa necessidade das "redes sociais" que perdemos com a industrialização uniu-nos. Creio que precisavamos preencher a necessidades ENORME que tem sido negada de pertencer, ter apoio, ser ouvido, ser compreendido, ser validado.

Tenho partilhado lá sobre o Tomé algumas coisas que ainda não consigo partilhar aqui, o ultimo texto do blogue foi condensado de um post lá. Cheguei confusa e encontrei um colo e a seguir um centro. Nele outras mulheres partilharam coisas que quero agora partilhar também convosco e que me ajudaram a compreender-me melhor e a encontrar um sentido. E talvez possam ajudar mais alguém.

"uma vez li num livro que não há palavra para descrever um progenitor que perde um filho. E isso acontece desde que o mundo é mundo! Há 50 anos atrás acontecia com uma frequência inaudita neste país. Crianças até aos 2 anos morriam que nem tordos. E no entanto não há uma palavra que nomeie o inominável... Engraçado. Há viúvo, viúva, orfão. E os pais orfãos de filho? Como se chamam?" M.

" No dia em que recebi a noticia da partida do Tomé deste corpo físico, estava na praia a ler o Hold on to your kids. Deixem-me repetir Hold on to your kids!!!!! Fiquei o resto do dia, lágrima no olho, a observar o meu filho em integração com o pai, a imaginar como viria a ser a minha filha. Hold on to your kids, percebem? Agarrem-se aos filhos, aos maridos, aos pais, tios, amigos, agarrem-se a quem amam. Nada mais interessa." Cátia


"não há como reabrir algo que não se consegue fechar... a ferida está lá, vai estar sempre. Não vai reabrir ou abrir mais por as pessoas falarem. Aliás o falarem com empatia, percebendo ou pelo menos fazendo o esforço por perceber e deixarem-nos falar é de certo modo anestésico e muito bom. Mas muita gente acha que se não falar do assunto ele não é pensado o que para mim é errado. Do que conheço de outras mulheres cujos filhos eram mais crescidos como a Fátima e outras mulheres como eu é que forçarem-nos ao silêncio é que nos faz mal. Se eu falo dos meus avós que morreram com naturalidade e mostro fotografias de quando eles estavam vivos, porque não posso fazer isso pela minha filha? ou melhor... porque é estranho? ou porque acham que não se está bem?
Sempre que publico fotos da minha filha já falecida (são as únicas que tenho já que ela nasceu morta e adoro-as) ou pelo facto de usar o colar que usei durante toda a gravidez. Já me acusaram de que não a deixo evoluir espiritualmente porque agarro o seu espírito, ou que traumatizo o meu filho mais velho... mal eles sabem o quanto convivemos saudavelmente os 4 e em como a Júlia faz parte da vida do irmão e o irmão lida tão bem com a morte dela e a honra em vários momentos do dia. Enfim... são teorias da treta de quem não passa ou de quem não entende a perda, o luto... O Tomé continua vivo só não está fisicamente entre nós, não dá para largar o que faz parte de nós. Um abraço bem apertado cheio de carinho" Cristina

 

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