Coisas que doem




Comprometi-me comigo própria a não photoshopar as minhas emoções aqui. Mesmo assim é dificil falar disto.
Há coisas que me doem. Aparentemente não são bem as mesmas que doem à maioria das pessoas, ou pelo menos não são aquelas que as pessoas normalmente admitem doerem.
Estou habituada à minha dificuldade de encontrar palavras para expressar o que sinto. Estou habituada a assustar os outros com a forma como sinto.
Sou irmã mais velha de uma familia complicada. Fui mãe sózinha de 3 filhos. Sou terapeuta. Normalmente sou eu quem cuida, até com os meus pais foi esse o papel que tive. 

Cresci numa ambiente onde não se podia esperar muito dos adultos e em que na maioria dos casos ganhava mais em me desenrascar sózinha do que em pedir ajuda. Em que o afeto vinha quando dava e era retirado quando precisava. 
Então sou uma ajudante profissional. E nem toda a gente me aguenta. Quando me doi, a expetativa em relação a receber ajuda adequada é minima. Não porque sou tonta, mas porque as minhas experiencias de receber ajuda adequada são escassas.
Tenho uma grande capacidade de "aguentar" que me dá jeito em muitas coisas, essa capacidade de aguentar não quer dizer capacidade de não sentir, quer dizer que aguento mais dor sem cair para o lado. Aguento mais mas também sinto mais dor. É uma espécie de presente envenenado, sobretudo porque muita gente confunde força com insensibildiade e não é a mesma coisa.
Isto tudo a propósito de quê?

Tenho-me sentido muitas vezes sózinha no meu luto. Não o faço nem quero fazer da maneira suposta, não o sinto aparentemente da mesma forma que a maioria das pessoas. 
É frustrante, acho que todos na familia, inclusivamente eu, estamos tão habituados ao meu papel de cuidadora, que não me perguntam suficientes vezes o que preciso nem o que sinto. 
Está a aproximar-se a data dos anos do Tomé. Imaginei uma festa imensa, cheia de gente e música, com as letras dele musicadas e os amigos todos juntos. Tudo o que aconteceu este ano desencoraja-me de o tentar. Esta e a minha maneira de viver o luto, mas não há muita gente que me acompanhe.

Há algumas semanas aconteceu um evento que planeei com muito amor na escola do Tomé, a escola não teve a minima recetividade, o que é duro, mas pior ainda não houve adesão por parte dos alunos. Tenho muito que pensar sobre isto, o que falhou na comunicação e tudo o mais, mas sobretudo parece-me que a lição é que por muito bom que seja o que eu estou a propor, só faz sentido para as pessoas que se identificam, não vale a pena vender pranchas de surf a esquimós. 

Gostava que tivesse sido diferente, gostava que outras pessoas tivessem tomado iniciativas em relação ao Tomé, em relação a mim. 

Algumas pessoas têm demontrado admiração pelo que faço, é agradável para o ego mas trocava toda a admiração por compreensão, por ligação. A admiração é uma forma de desconexão. 
Dou por muitas pessoas a pedirem-me para racionalizar, outras não compreendem, têm a sua forma de sentir que tenho que respeitar, e claro que faria todo o sentido, não fosse ser o que faço sempre. E desta vez gostava de não ter que fazer. Desta vez sabia bem terem sido os outros a fazerem isso por mim, tentando dar-me não o que lhes é mais fácil, mas o que eu preciso, porque lá está neste momento as pranchas de surf tambem não me servem de muito.

A vida é o que é e as pessoas são o que são, mas nada me obriga a gostar nem a ficar satisfeita. Nada altera o facto de que eu precisava que fosse diferente. Desta vez era bom que fosse a meu respeito e do que eu preciso e não das limitações dos outros.

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