"tu e eu não estamos em planos diferentes, não estás sozinha" - Sofia
Chegou-me este texto de uma colega de escola do Tomé, é lindo. Aqui fica:
"Não sei bem por onde começar. Lembro-me de ver o Tomé na escola e fora dela, ao pé do Sul América, sentado junto dos seus amigos. Não me lembro das situações específicas, mas lembro-me somente de o ver sorrir e rir. Aliás, só sei que ele era capaz de outras expressões faciais por ver todas as fotos publicadas no facebook, pelos seus amigos. Lembro-me de olhar para ele, de o ver sorrir e de sentir paz.
"Não sei bem por onde começar. Lembro-me de ver o Tomé na escola e fora dela, ao pé do Sul América, sentado junto dos seus amigos. Não me lembro das situações específicas, mas lembro-me somente de o ver sorrir e rir. Aliás, só sei que ele era capaz de outras expressões faciais por ver todas as fotos publicadas no facebook, pelos seus amigos. Lembro-me de olhar para ele, de o ver sorrir e de sentir paz.
Nunca nos falámos. E ainda assim, quando
soube da morte do Tomé chorei. Por ele, pelos seus amigos, pela sua família e
por mim... É que não há muitos sorrisos genuínos para onde olhar, tal como não
há muitos sorrisos que transmitam paz.
Tempo passou e fui vendo todos os
bonitos tributos por parte dos seus amigos e, especialmente, da sua mãe. Li
textos que me tocaram verdadeiramente: quer da mãe do Tomé, quer do próprio
Tomé. Senti-me tão parecida com ele quando li o texto em que ele dizia
sentir-se cair. E percebi o que a Fátima queria dizer com "o Tomé fez uma
escolha". Fez-me bem ler um texto em que a Fátima fazia uma afirmação
ousada e corajosa: há muitos Tomés.
E foi esta afirmação que me motivou a
escrever este texto. Estive seis anos na escola Rainha Dona Leonor e nunca
senti que pertencesse lá, que preenchesse os requisitos para me conseguir
integrar. Por muitos amigos que pudesse ter, faltou sempre algo. Durante
bastante tempo, culpei a escola, como se houvesse uma maldição sobre ela. E
durante muito tempo, culpei-me a mim. Mas agora percebo que todos, até os mais
puros de coração, se sentem incompreendidos. Até porque todos pomos máscaras...
Assim, como é que podemos compreender os outros ou até a nós mesmos?
A morte do
Tomé fez-me pensar nisto tudo e em muito mais. Uma noite sonhei com ele, talvez
por ele ocupar tantos dos meus pensamentos, e sonhei que ele me transmitia
(através de símbolos e não de palavras) que eu e ele não estavamos em planos
diferentes. Foi dia 30 de março. Lembro-me do dia porque recordo-me que me
esqueci desse sonho assim que acordei e que só mais tarde, várias horas depois,
é que voltei a pensar "tu e eu não estamos em planos diferentes, não estás
sozinha". Obviamente, isto mexeu comigo. Não sabia se devia levar isto
para o lado espiritual, ou se devia sequer encarar a frase de modo literal. Mas
achei interessante a frase não ser "estamos no mesmo plano", mas sim
"não estamos em planos diferentes". Porque nem sempre se tem de estar
no mesmo plano, para que não se esteja em planos diferentes. E a verdade é que
nunca senti que o "tu" fosse só eu, senti uma espécie de sentimento
de fraternidade e de muito carinho.
Tenho tentado não intelectualizar demasiado
este sonho. Não quero contaminar o sentimento inicial que ele me transmitiu,
tão puro, com pensamentos inúteis. Mas há muito tempo que queria dizer tudo
isto à Fátima e congratulá-la pelo seu filho e pela mãe que é. E, acima de
tudo, queria agradecer-lhe, porque ao ler os seus textos e os do Tomé, pude
voltar a sentir a paz que senti ao vê-lo sorrir. Sei que não me vou esquecer
nunca do sorriso dele. E só espero que um dia o meu possa ser tão grande como o
dele." Sofia
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