Continuaremos a viver - Elisabet Pedrosa



Esta é a Gina e o seu irmão Pol. E em baixo está a foto do livro que a sua mãe escreveu depois da sua morte, com 11 anos. Ela tinha Sindrome de Rett, este é o sorriso de uma menina que durante a sua vida nunca andou e nunca falou a não ser com os olhos, mas é muito amada. 

Este livro encontrou-me em Barcelona. Porque comigo nunca sou eu quem os encontra, são eles que me encontram a mim. Têm sido toda a vida a linguagem com que a alma comunica comigo. Neste caso tomo-o como uma prenda do Tomé, uma prenda antecipada do seu aniversário. Nele encontrei finalmente uma alma irmã, alguém que também se pergunta várias vezes se estará louca por sentir assim. 

Reencontrei-me nas suas palavras, a toda a hora me debulhava em lágrimas, lágrimas boas. É um livro irmão deste que quero escrever. Vou aos poucos partilhar convosco algumas das coisas mais bonitas que li nele. 

"Uma mãe conta que muitas vezes se sente louca porque ninguém quer falar com ela sobre o seu filho, como se nunca tivesse existido. E nessas alturas procura as fotos que provam que sim, que o seu filho esteve com eles, que teve uma parte muito importante nas suas vidas e que foram felizes.
Eu também me sinto assim às vezes. Deve ser algo próprio das mães. Há pessoas que já não querem falar de ti Gina com o argumento que estás morta e que, supostamente, temos que virar a págna e seguir em frente. Eu continuarei a falar de ti. Não posso fazer outra coisa. Dizem que o luto de um filho é o único que dura toda a vida, porque um filho é insubstituivel.
Porque temos que dedicar toda a atenção aos filhos vivos e deixar de lado os mortos? Tem que haver um recordar e um espaço para o filho morto. Não o tapar. Não o apagar. Reivindicá-lo. E nem por isso ser considerada uma pobre mãe perturbada que não aceita a morte do filho.
Claro, aceito e faço frente à tua morte, mas também a quero integrar na vida."
Elizabet Pedrosa - Mãe de Gina, Pol e Jan


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