3 anos - Ana Isabel


A Ana Isabel enviou-me esta mensagem que me aqueceu o coração e autorizou-me a partilhar uma das cartas que escreveu para o pai. Aqui está a mensagem e a carta. Muito grata Ana.

"Não conheci o Tomé. Tenho-o vindo a conhecer através do lhe é escrito e só posso lamentar não o ter conhecido. Mas não importa. É provável que nos cruzemos numa das inúmeras vidas ainda por ser vividas. O que importa é que a vida dele, através de ti, querida Fátima, tocou a minha e validou grande parte do que sinto quando escrevia e escrevo para o meu pai.

Sempre falei e escrevi para o meu pai. Quando começaste o blog pensei "ah... Alguém que me pode entender... Alguém que valida (à falta de melhor termo) a forma como faço o meu luto".
Tenho a certeza que mais haverá quem tenha lido o blog e sentido o mesmo que eu. Não duvides disso.
Grata <3

" Tic... Tac... Tic... Tac... Tic... Tac...
Passa assim o tempo, imparável, implacável, insensível ao que sentimos.
Penso nestes últimos dias. Penso na intensidade das emoções. Pergunto-me porque estou a sentir tanto e tão profundamente.
Sinto-me em queda livre e preparo-me para o impacto final. Preparo-me para o momento em que, não tendo mais onde me esconder, vou ser atingida em cheio pelas memórias e pela dor.
3 anos que vão passar. Sempre o número 3. O princípio, o meio e o fim. Nascer, viver e morrer. No teu caso: a tua morte, as voltas no carrossel das memórias e o fim do ciclo vicioso de que me tornei prisioneira voluntária.
É a altura de me deixar desabar. O tempo certo de me rasgar na dor. O momento de baixar a guarda, confiar e ser frágil.
Não te vou esquecer. Como poderia? Nem tão pouco vou deixar de chorar a tua ausência ou de sentir as saudades de quem me é insubstituível.
Vou tão só ser uma filha que perdeu o pai e vou permitir-me avançar, nem que seja um passo apenas.
Vou também e principalmente libertar-me do monstro que te levou de nós. Vou libertar-me da culpa de teres perdido a batalha porque a luta foi sempre injusta desde o início, sem hipóteses de ser ganha.
Pai, o amor e as saudades vão sempre cá estar. Vou continuar a escrever-te, a falar contigo e a ver-te em cada pessoa que se cruzar comigo e me faça lembrar de ti.
Eu sei que percebes o que mudou. Mudou o eu considerar-me uma vítima daquela doença. Não o sou mais. Posso ter-te perdido nas suas garras mas sobrevivi à dor.
Eu sou a filha do meu pai. E nenhuma filha tua será alguma vez uma vítima.
Este ano deixarei a dor e a mágoa atravessarem-me. Vergar-me-ei perante as forças das emoções. Descerei ao fundo de mim e enfrentarei os meus demónios. Depois emergirei como sempre faço. Dorida mas mais forte.
3 anos este ano, pai. É altura de fechar o ciclo e renascer.
Amo-te <3"


Ana Isabel

 

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