20 000 visualizações... e as coisas perfeitas



Quando percebi que estávamos quase a atingir as 20 000 visualizações no blogue - o que é coisa pouca para um blogue sobre moda ou politica, mas muito para um blogue como este - pensei em estar atenta e escrever um post exatamente nesse dia. Dei-me conta que esse dia já passou e nem dei por ele. Já vamos em 20 300 e picos. Upss... nâo foi perfeito.

A primeira coisa que quero, é agradecer a quem tem lido e comentado, em público ou em privado. É aterrorizador de cada vez que me sento para escrever e libertador de cada vez que partilho. Sem as palavras gentis e a ligação que tenho sentido nunca conseguiria ultrapassar a vergonha, o terror do ridiculo, da imperfeição e chegar à parte da libertação. Quero que saibam que cada palavrinha que têm dito tem imensa importância.


Desde o inicio que reagi à morte do Tomé com um sonho. Um sonho dentro de um sonho: que os sonhos do Tomé para o mundo se concretizem apesar de ele não estar cá para o fazer. 
Esse sonho tem sido, como muitos outros atrapalhado e procastrinado (grande palavra) por uma realidade incontornável: o meu sonho é perfeito, o meu plano não, nem nunca vai ser. 
Não sei, nem tenho forma de saber com toda a certeza se o Tomé aprovaria o que quero fazer, e só os sonhos são perfeitos, se não o concretizar posso continuar a vê-lo perfeitinho e intocado na minha cabeça, se o concretizar vou fazer erros, vou incomodar pessoas, vou encontrar resistências, vou ser criticada.

A única forma de não ser atacado é ficar quietinho. Talvez não pareça mas sou uma pessoa muito timida. A única razão porque aprendi a não parecer é porque os tímidos são constantemente "intimidados", começa em casa e vaí por aí fora. Demasiada gente para o meu gosto acha graça a embaraçar os outros. Demasiada gente não sabe lidar com a sua própria vulnerabilidade e portanto defende-se atacando. Demasiada gente tem medo de realizar e portanto ataca quem realiza. Demasiada gente está treinada para competir em vez de cooperar. 


Eu tinha óculos feios, um mau corte de cabelo e dentes tortos - os dentes tortos ainda tenho... a receita infalível para o insucesso na primária. E sobretudo eu era uma das melhores alunas, as duas coisas acabaram com a possibilidade de uma vida social. Eu era a menina com quem a professora comparava depreciativamente os outros e a quem óbviamente diziam no recreio "Não podes brincar connosco". Eu odiava a professora por isso.


Queria tanto ser normal. Tanto. Só tinha seis anos. Por essa altura aprendi a fazer-me pequenina, a saber a resposta mas não responder, a deixar toda a gente copiar por mim, a ser boazinha e não dar nas vistas. A ficar dividida entre o prazer de saber e de ser capaz e a sensação de que isso ia ser castigado. Ainda molda o meu comportamento hoje em dia de mais formas do que gostaria. E lamentávelmente durante muitos anos foi assim que a escola funcionou, e ainda funciona, um espelho do que se passava cá fora, num mundo onde havia uma ditadura, que era alimentada pela competição, pela inveja e pelo medo, como todas são. Foi isso que aprendi na escola, e durou mais do que saber de cor a tabuada.


Cheguei à adolescência muito deprimida e sem competências sociais, tão deprimida que durante um periodo deixei de falar, limitava-me a responder ao que me perguntavam, sabem que ninguém notou?


Aqui estão um dos meus papões apresentado, parece que nomear públicamente os papóes nos dá poder sobre eles :) espero que seja verdade. Para já estou só apavorada por estar a escrever sobre isto.

A partir de certa altura encontrei os meus espaços de segurança, mas eles incluiram sempre ter um cuidado extremo em não representar uma ameaça para ninguém. E caramba se isso dá trabalho e queima energia. Há pessoas que se sentem ameaçadas com muita facilidade e eu sou uma delas. 


E aqui surge o desafio que enfrento, e mais uma vez parece-me que estou muito acompanhada. Se quero avançar com os meus sonhos, e transformá-los em realidade, e quero muito tenho que:
  • deixar ir a perfeição do sonho e aceitar a imperfeição constante do plano fisico
  • deixar de ser invisivel
  • aprender a lidar com criticas destrutivas sem ficar destruida
Quando fazes alguma coisa em público não há maneira de controlar o que vai surgir em troca e tem que se estar preparado se é que isso é possível. Já dei a cara por coisas polémicas que originaram discursos de ódio no facebook. Foi duro, enraivecedor. É dificil sobretudo para alguém treinado para ser empático não espelhar o ódio.

Encontrei aqui na Grécia algo que parece ser o que esperava para avançar com o projeto que ainda não tem um nome perfeito mas vai ter um (imperfeito) dentro em breve. 

Várias coisas no próximo ano, só vão acontecer se eu deixar de voar baixinho. 
Se sair da minha bolha e começar a pregar para "não convertidos"

As pessoas com discursos de ódio e os bullies também fazem parte da familia  humana. As minhas colegas da primária que cantavam "cara de macaca" enquanto eu subia as escada - agora tem uma certa graça na altura era dificil fazer de conta que não ouvia - tinham histórias que as tornavam cruéis, não acredito de todo na crueldade natural das crianças, nunca a encontrei nos meus filhos. 


A primeira constelação que fiz para mim própria a seguir à morte do Tomé foi com a Milagros Carmona, a pergunta era qual é a minha atitude que era mais benéfica para mim e para o Tomé. O meu representante foi o Miguel. Ele ficou em pé com os braços levantados, como que fazendo uma ligação ente o céu e a terrra. Quando olhei senti-o tão vulnerável, o coração estava totalmente exposto. A questão que veio foi, como defender-se de coração aberto? Como defender-se sem agredir o outro? Defender-se agredindo é o mais fácil, mas não ajuda. 

Há uma frase do Osho que adoro: 


"Pensas que alguém te está a tentar agredir? 
Ninguém tem energia suficiente para agredir, 
toda a energia está ocupada a defenderem-se."

Na constelação a solução era desviar suavemente para o lado. Não deixar chegar ao coração, não empregar energia a afastar, simplesmente afastar manter-se centrado e desviar o ataque. É uma arte que não domino, mas quero aprender.






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