Culpa e responsabilidade - Sou a pior... e a melhor também




Hoje "fiz" uma constelação para um grupo de 8 pessoas. Os temas são frequentemente as relações com os filhos, os pais, os parceiros. Correu muito bem.
Em muitos momentos pensei: porque não pude fazer o que faço pelos filhos de outras pessoas pelo meu próprio filho? Não é uma pergunta retórica, espero mesmo conseguir vir a responde-la.

No último ano do Tomé aqui, muitas vezes disse a brincar aos meus clientes:
"Não quero marcar consultas muito tarde porque senão passo todo o tempo a cuidar os filhos dos outros e o meu filho não tem quem o cuide."
E no entanto fiz isso. Deixei-me envolver e esgotar de tal maneira pelo meu trabalho que literalmente sobrava muito pouco para o Tomé além do meu cansaço e apatia ao fim do dia.
Muitas vezes quando ia dar-lhe um beijinho já depois de ele ter adormecido ele resmungava: "Agora já estou a dormir, és a pior."

Tal como o Tomé diz e aplica-se perfeitamente a mim
"preso no trabalho, a tentar sobreviver
acaba agarrado a algo a tentar esquecer
a frustração de vida que tem
não se relacionando realmente com ninguém
nem tempo para a família que só lhe quer bem"

Seria fácil tentar passar pela mãe querida e sempre disponível mas não foi isso que aconteceu.
A certa altura as dores do meu filho doiam-me tanto,  deixavam-me tão impotente que me fechei para ele. O próprio Tomé me disse isto: "Este ano está diferente, estás  fria e distante" E era verdade. Eu realmente não sabia o que fazer e em momentos importantes fugi. A forma do Tomé viver a sua adolescência mexeu com os meus fantasmas e eu virei-os contra ele.

Talvez parece estranho mas eu sei que falhei ao Tomé, e não tenho medo de o admitir.
Pelo contrário, acho que admiti-lo me faz bem e pode fazer bem a outros Tomés e a outras Fátimas.
Eu falhei ao Tomé porque era inevitável. E quero falar sobre isso.
Quero olhar para isto e usá-lo para crescer, se puder ajudar alguém através dessa partilha, fico feliz.

Assisti a muita coisa que sabia que fazia mal ao Tomé, e senti-me impotente para impedir.
Gostava muito que começássemos a ser mais honestos sobre o que fazemos e deixamos fazer a nós e aos nossos filhos. Gostava que o amor falasse mais alto do que a vergonha e começássemos a ouvi-los e compreende-los, a falar com eles de coração aberto, mesmo quando isso implica reconhecer insegurança e vulnerabilidade, eventualmente mau feitio, às vezes temos medo que isso nos tire poder, mas esse é o unico poder que temos.
Não vale a pena fingir que sabemos onde vamos nem o que andamos a fazer.... eles conseguem fácilmente perceber que é mentira.

Numa conversa recente o Tomé disse-me uma coisa muito bonita: "Sabes que sempre que venho ter contigo a sentir-me mal, já sei que consegues fazer-me sentir bem. Mas não posso continuar a vir ter contigo sempre." Portanto eu fui a pior e também a melhor... <3

De cada vez que venho escrever, ensopo um maço de lenços... faz-me bem.

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