Xico - Memórias e outras histórias


O mundo anda estranho. Cada vez o sinto mais, e por vezes sinto que ando perdido no meio desta selva, e no fundo estou, só que agora ando sózinho, antes andava contigo e era mais fácil porque tu me entendias como um amigo.
Hoje dou por mim crescido e a cada dia que passa tenho mais medo de perder a criança que há em mim.

O mundo anda estranho, pede-nos que larguemos a mentalidade da criança para nos tornarmos adultos mas esquecem-se que ao pedirem tal, exigem que abandonemos toda a criatividade, toda a positividade, todo o bem que só uma mente de criança tem. Pedem-nos portanto que percamos também a nossa essência e encontremos a nossa função no sistema.
Sinto cada vez mais que o mundo me quer tirar o Tomé que há em mim e mete medo.
                                     
Há cerca de dois meses faleceu outra pessoa, que sendo ou não grande amiga minha como era o Tomé, me abalou imenso.
Essa pessoa era das pessoas mais importantes na vida de um grande amigo meu e que por isso era também importante para mim e que por isso me abalou tanto.

Era uma noite como qualquer outra e quando eu chego ao ponto de encontro combinado, alguém me diz "a C. morreu, o R. está ali ao fundo" eu ouvindo isto, não entendi bem à primeira, simplesmente não estava à espera e achei que fosse uma piada estúpida. Foi então que dei uns passos em direcção a ele e o vi sentado no chão de cabeça para baixo, agarrado aos joelhos, a chorar...

Ao ver isto, senti imediatamente a presença do Tomé, não sei bem como explicar, mal o vi, pensei no Tomé e senti exactamente o que tinha sentido quando me deram a notícia de que ele tinha morrido. O sentimento, a emoção, a reacção, tudo. Parecia um dejávu, uma repetição de tudo aquilo que tinha passado e não queria voltar a passar. O meu corpo foi abaixo, a minha energia tornou-se negativa e não sabia de que forma abordar o meu amigo. Apenas pensei em abraçá-lo e foi o que fiz, mas eu próprio estava tão destroçado como ele. 

Os tempos foram passando e os dias foram-se tornando melhores e hoje olho para ele, para o meu amigo, e vejo que do enorme desgosto e tristeza, pode surgir uma luz. Pode-se lutar contra a perda, mas a melhor técnica é aceitar as coisas como são. Viver com o desgosto torna-nos tão mais fortes, viver com esta dor e saber controlá-la de forma a torná-la algo de bom, esse é o verdadeiro desafio.

Eu tenho saudades do meu amigo Tomé, tal como tenho saudades da minha amiga Carolina, mas o mundo por vezes é cruel. Duas das pessoas mais puras, das mais genuínas que eu vim a conhecer foram-me tiradas. Mas hoje eu sorrio, porque sei que independentemente de onde estiverem, já estiveram em mim e em mim permanecerão para sempre.

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