O Tomé era entre outras coisas um curador, ele tinha desde criança a inocência, a compaixão, a profundidade e a sabedoria do coração.Eu olhava para ele e imaginava onde poderia chegar no futuro. Imaginava que um dia pudéssemos trabalhar em conjunto em algum projecto. Já tínhamos alguns planos em conjunto com Council na escola.

O Tomé não sabia bem o que queria ser, talvez porque quisesse ser tantas coisas. Primeiro quiz seguir Relações Internacional para mediar conflitos entre as nações. Depois descobriu o Way of Council, a Permacultura e fez-lhe todo o sentido. Estava-lhe no sangue.

E eu tinha medo, medo do que acontece a quem realmente brilha, a quem se mantém vivo, quando os outros já adormeceram há muito tempo. E o Tomé já estava a encontrar resistência, na sua pequena autoridade pessoal. Mesmo como adolescente e também já como criança, a liberdade interior que mantinha afrontava muitas pessoas. E se em criança ele não compreendia, agora começava a compreender. Ele era um lutador e um provocador, não se calava perante uma injustiça e isso aqui é muito perigoso.

Eu temia por ele, porque é tão duro viver de coração aberto numa sociedade sem coração. E se eu soube como ajudá-lo a manter o coração aberto, não soube como ajudá-lo a não sofrer demais por isso, porque isso eu também não sei fazer.

Ele era sem dúvida uma pessoa muito feliz, mas também era uma pessoa muito lúcida e isso dói. O que eu queria dar ao Tomé era um mundo minimamente decente para viver. Não sei se ele me vê, não sei se ele vai renascer, mas não só para ele como para todos, espero fazer algo a favor disso.

"(...)deixo de sentir para deixar de sofrer tenho em mim todas as dores do mundo que me fazem querer ser uma pessoa melhor mas a cada dia que passa há uma dor maior que me cai sobre os ombros e me deita ao xao(...)"


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