"Mãe, és feliz?" . Fátima



Como podemos chegar um dia e dizer aos nossos filhos "não me sigas, ando perdido"?
Há uns anos atrás a Bianca que é uma rapariga muito direta perguntou-me "Mãe, és feliz?"
Fiquei sem respiração, a resposta era não, mas como é que eu lhe podia dizer isso? E por outro lado como é que lhe podia mentir? Eu não sei como viver bem neste mundo, não sei como viver bem com esta sociedade. E se calhar estou certa.

Eu sinto-me tão perdida, confusa, triste e desiludida tantas vezes, sim gosto de viver, tenho planos, sonho e realizo imensa coisa que me dá muito prazer, mas não vejo de todo que a vida na Terra seja fácil. Acho que é um enorme desafio. Cair e levantar, cair e levantar... costumo dizer que a vida é como um jogo de vídeo, assim que consegues andar á vontade num nível, passas ao nível seguinte e voltas a cair e levar na cabeça. E ainda por cima parece que nos comportamos uns com os outros como inimigos.

Sobreviver na terra é relativamente fácil, é só fechar o coração e encher os armários e a garagem.
Mas viver? Viver é outra coisa. Manter o coração aberto, os olhos abertos e ter consciência do que se passa dentro de nós e à nossa volta? Isso é para heróis ou malucos :)
Viver com vulnerabilidade. O Tomé era mais sábio do que eu, reparo no quanto confiava nas percepções dele e  não me lembro de ter falhado. Faz-me falta perguntar-lhe o que acha das coisas, das pessoas, das situações. Desde que ele era pequenino "usava-o" como detetor de boas energias, tanto em sítios como em pessoas, ele via mais do que eu. Talvez porque nunca lhe foi retirada a confiança no que sentia e a mim sim. Mas a que preço?

"apercebo.me dos meus defeitos e dos outros tento ignorar a hipocrisia que paira no ar e como uma doença que não para de se espalhar por tudo quanto e parte deixo de sentir para deixar de sofrer tenho em mim todas as dores do mundo que e fazem querer ser uma pessoa melhor mas a cada dia que passa  ha uma dor maior que me cai sobre os ombros e me deita ao xao"

Uma das coisas que me afligiam ultimamente era compreender que já não o podia proteger. Que agora era com ele. Não podia ir com dele para por na ordem as pessoas de coração fechado, nem ajudá-lo a compreender as situações difíceis. Um dia tive que dizer a mim própria: Ensinei-lhe tudo o que sabia, agora só me resta confiar que seja suficiente. E apertou-se-me o coração por perceber que apesar de tudo era tão pouco para um mundo tão duro. O meu sonho é que em vez de ensinarmos os nossos filhos a adaptarem-se ao "mundo", ensinar ao mundo como se adaptar aos humanos. Creio que seriamos todos mais felizes.

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