Muito devagarinho . Inês Teixeira
Tenho saudades.
E quando tudo corre bem? E quando
levas uma vida despreocupada? Casa-escola, escola-casa, cafés com os amigos,
tardes de riso constante, momentos marcantes, bebedeiras de bairro e conversas
inesquecíveis. E quando tomas tudo isto como garantido e, de repente, sentes o mundo
a desabar e uma dor a apoderar-se de ti? Uma dor que te corrói, uma dor que te
revolta e que não consegues compreender e muito menos fazer com que ela passe?
Tenho saudades.
E foi este terramoto, de escala
duzentos, que senti naquele dia quente de Agosto. Parece que tudo pára, que
tudo cai, que o mundo está contra ti; parece que nada vale a pena e que nada
faz sentido. Nada fazia sentido. Foram dias de choro, de silêncio, de
escuridão… mas também de carinho, de apoio, de aconchego e de muito amor. Apesar
de tudo serem ruínas à minha volta, nunca fiquei sem chão.
Tenho saudades.
Tenho saudades, e com o tempo é
isso mesmo que acontece, a dor que te corroía e deixava sem ar passa a uma
saudade enorme de o ver sorrir e de sorrires com ele, das parvoíces, dos
pensamentos filosoficamente absurdos, das ideias mirabolantes, do apoio, de sua
expressão contagiosamente alegre, do espirito aberto e livre como o de ninguém
e da sua vontade de ajudar. Tudo passa a uma constante recordação dos bons
momentos, a memórias de dias fantásticos, a um sentimento dolorosamente
nostálgico e calmo e até chegas a acreditar que está tudo melhor assim... e
aprendes, aprendes mais do que qualquer pessoa que contenha em si todo o
conhecimento do mundo te possa ensinar, aprendes a viver e a deixar o passado
entrar em ti, devagar, muito devagarinho.
Inês
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