É impossível esquecer . Bianca


Realmente.
Ia para escrever sobre o quão fodido é por vezes. Quantas vezes penso: Foda-se. Foda-se. Foda-se. Quantas vezes ouço essa palavra ecoar na minha cabeça quando vejo fotos dele e penso nunca mais o vou poder abraçar fisicamente. E nisto ia escolher uma foto para acompanhar o meu texto e tenho esta no meu ambiente de trabalho e mais uma penso para mim como é que eu posso escrever sobre isso olhando para uma foto destas.
Olho para esta foto e só consigo pensar ele é tão lindo. O seu sorriso no olhar. O seu sorriso na boca. O seu sorriso nas covas das bochechas. Ele é tão lindo. Ele é tão lindo. Amo-o tanto. Parece que foi ontem que ele tinha esta idade, esta imagem. Sinto, perfeitamente, a sensação de estar com ele nesta idade, como ele era, como nós éramos.
Lembro-me da história deste brinco. O seu primeiro furo, tão novinho.
Vou partilhar a história. Eu e o Tomé Estávamos entuasmadíssimos a falar dele fazer um brinco na orelha. E eu disse à minha mãe. Mãe, amanhã, quando viermos da escola, vamos furar a orelha do Tomé. E ela disse ‘tá bem, ‘tá bem. No dia seguinte quando ela chega a casa e diz o que é que é isto na orelha do Tomé?! E com toda a naturalidade eu respondo, então mãe, tu disseste está bem. Ao que ela responde eu pensei que fosses estavam a brincar.
E mais uma vez parece que foi ontem e sinto, perfeitamente, a sensação de estar com ele, como ele era, como nós éramos. E vão-se todas as minhas questões de será que sempre me vou lembrar dele como ele era, qual a sensação de estar com ele, como é que ele falava, como é que ele ria, como é que ele chorava, como é que ele me olhava e a cara de satisfação que ele fazia cada vez que abraçava a minha mãe e que eu imaginava ser a mesma quando me abraçava a mim.
Claro que nunca me vou esquecer. Nunca me vou esquecer de como ele era com 18 anoss, nunca me vou esquecer de como ele era quando tinha 10 anos. Nunca me vou esquecer de quando eu, ele e a minha mãe fomos ao café ao pé da casa do areeiro comer torradas e beber chá e passamos para aí uma hora a rir, mas a rir bem. E de pensar para mim, eu acho que isto não existe em mais lado nenhum. De estar na Ericeira com ele e o Isac e rir-me e rir-me e pensar que se estivéssemos frequentemente os três juntos não teria a mínima dificuldade em inspirar-me para escrever as minhas séries de comédia. Nós os três juntos. Entendíamo-nos tão bem, tão perfeitamente como se nunca tivéssemos passado um dia separados. Lembro-me de tudo isso. Lembro-me de muito mais. E é impossível esquecer.
É impossível esquecer.

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