O luto é uma expressão de amor


Tantas coisas estão a acontecer que são demasiado delicadas e vulneráveis para partilhá-las. Há tantas coisas que não compreendo. Tantas perguntas sem resposta. E no entanto... através da morte do Tomé estou a abrir-me a um mundo desconhecido e estranhamente confortável, um mundo em que se fala da morte e em que a finitude da vida é um tema apropriado e desejável.

Tenho sentido as dores e angústias da perda, mas também as suas dádivas. Compreendi que não controlo o processo, apenas faço parte dele. A única escolha é resistir ou render-me. E resistir dói mais. Há momentos de uma tranquilidade maravilhosa, há momento em que nem penso nele, há momentos em que penso nele e só sinto paz e amor, há momentos de alegria. E há momentos de dor, confusão, culpa e desespero e também esses fazem parte. E todos passam.

Nos dias a seguir ao acidente do Tomé o acordar foi a pior parte do dia, a cabeça acordava cheia de angústias e começava a rodar cada vez mais depressa. De algum lado veio sempre esta voz:
"Desce para a barriga, fica na barriga" 
e sim, de cada vez que me focava na barriga tudo passava. Quase podia ver um fio azul fluorescente a ligar-me a alguma coisa que me trazia paz. As minhas visceras tinham a capacidade de compreender e aceitar mais que a minha cabeça.

 Também aprendi que o drama surge quando me afasto dos meus sentimentos, quando duvido deles. Compreendi que o drama é o que faço quando não sei o que sentir e tento sentir "a partir de fora" a partir do que imagino que se sente nestes casos.
O drama não são os meus sentimentos verdadeiros, 
sou eu a sentir a partir das emoções coletivas acerca da morte. 
E caramba, as nossas emoções coletivas não são uma boa coisa neste caso, estão totalmente reprimidas e retorcidas... são perigosas e até um bocadinho criminosas.

Aprendi que há por todo o mundo encontros onde as pessoas se encontram apenas para conversar abertamente sobre a morte, que existem Doulas para a morte assim como as há para o nascimento, que há tantas formas extraordinárias de lidar com a perda. Assim como diz a McCall Erickson


"....talvez seja porque a perda não apenas toma. Também dá. Como uma troca.
Vou tirar-lhe isso, mas dar-lhe aquilo: mais espaço, lágrimas de limpeza, melhores perguntas, compaixão, caminhos para o centro, mapas para poços mais profundos, menos distrações, cobertores das trevas, pequenas poças de luz sob a sua pele onde ele tocou, mas nunca vai tocar novamente, e buracos no seu coração que apenas amor puro pode preencher.
E, em seguida, vá pelo mundo e leve essas coisas o melhor que puder. Deixá-los se movimentar e surpreendê-lo. Vá à mercearia com eles, picar legumes com eles, ir a festas e sorrir para as pessoas com eles.
Seja você mesmo, apenas diferente, agora, com todo o luto.texto completo de McCall Erickson aqui





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