Andando na beira do precipicio



Este ano e tal que passou tenho-me apoiado e refugiado muito no Isac e na Bianca. Sabe bem, mas quero que sejam mais eles a apoiar-se em mim do que eu neles. Também tenho pensado e chorado muito sozinha, tentado encontrar formas de expressar o meu amor pelo Tomé à distância fazendo coisas bonitas.
Cada momento em que ele é recordado, cada situação em que algo é feito em honra dele, para mim funciona como uma memória com ele. E preciso muito dessas memórias para me aquecerem o coração. 

Não sou a pessoa mais habilidosa a pedir ajuda, tenho pensado nisso e chegado a algumas conclusões. A mais importante é que é preciso informar os outros do que precisamos e dar-lhes a possibilidade de decidirem o que podem fazer. 
A minha experiência de infância foi pedir ajuda e essa ajuda não ser a que precisava ou pior ainda ser algo que eu não queria de todo.
Mesmo com todas as experiências que contrariam isso, continuo a evitar pedir ajuda por medo de me ser dado algo que não só não me serve de nada como me incomoda.

Isto tudo para dizer que este Natal foi particularmente delicado para mim e tive que pedir muita ajuda.
Embora eu pense no Tomé todos os dias, imensas vezes e me comova todos os dias a pensar nele (e noutros choro que nem uma Madalena) cada vez há menos pessoas a falar sobre ele comigo, a falar o nome dele quando estamos juntos. 

Apesar de ele estar todos os dias no meu coração e no meu pensamento, e de precisar imenso de falar sobre os meus sentimentos, comecei a ceder e a rodear o assunto, a guardá-lo só para mim a não ser que outra pessoa puxe o assunto e não gosto nada disso. Como diz o meu filho Isac, as pessoas não perguntam pelo Tomé porque sabem que não há nada de novo para contar. É verdade, sobre o Tomé não há nada de novo para contar mas sobre a minha relação com ele há. A minha relação com ele está viva e sobre essa posso e preciso de falar. Posso sentir-me de uma forma de manhã e de outra completamente diferente de tarde. Posso precisar desesperadamente de falar sobre o que senti em relação a ele durante a noite. 

Pensei que não ia ser capaz. De participar de rir. Imaginei que ia ficar super zangada com a minha família por viverem este luto de uma forma muito diferente de mim, cada um com as suas necessidades pessoais específicas. eu a precisar de cerimónias e mais cerimónias e outras pessoas a precisarem de tempo e silêncio. Não zangada por querer, zangada de dor. Senti que estava a perder o Tomé, que a memória dele se estava a desvanecer e esbracejei para não o perder, para não perdermos os Tomé. E sabem que mais? a verdade é que como disse a minha irmã Susana 'em comum temos mesmo querermos ajudar-nos uns aos outros'. Pedi ajuda e correu bem. Estamos todos a tactear este caminho em conjunto, não é nada fácil, um passo de cada vez. 

Por isso quero agradecer especialmente à minha família, por estarem a sair das suas zonas de conforto para se encontrarem comigo no ponto onde eu estou. Como eu lhes expliquei, aquilo que podem parecer as minhas escolhas, são escolhas sim, mas estou a andar num caminho muito estreito num penhasco, em que de um lado está a segurança e a transformação, o amor pelo Tomé, pelo Isac e pela Bianca e do outro o deixar-me destruir pela dor. São as escolhas de todos os dias de cair no abismo ou agarrar-me à rocha. De enlouquecer de dor ou agarrar-me ao amor. Pode parecer fácil de fora mas não é. 

Se parar para racionalizar, caio. Só tenho energia para seguir o coração e francamente estou muito contente com o resultado. O meu coração e a minha alma não me têm falhado. Confio cada vez mais neles, mesmo que o que me peçam pareça maluco a toda a gente.  O que lhes peço é muito, mas é a única coisa como me podem ajudar. É que me apoiem na minha forma de viver a morte do Tomé, mesmo que não compreendam, mesmo que não estejam de acordo. Eu não posso sair do meu caminho estreitinho a não ser para me estatelar lá em baixo. E, pelo Isac e pela Bianca e pela memória do Tomé não vou fazer isso. É muito claro para mim que não quero que digam "Ela foi destruida pela morte do filho." Quero que digam, "Ela superou a morte do filho e transformou-a numa obra de arte em homenagem ele. Que alma fantástica ele é. Ele deixou atrás de si um rasto de luz, sensibilidade e amor."


Comentários

  1. Não conheço a tua história com o Tomé, a Bianca e o Isac, mas gostava muito que pudesses partilhá-la um dia...Um abraço** Marta Gabriela Oliveira.

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  2. Olá Marta. Está partilhada aqui http://co-mover-se.blogspot.pt/2015/01/ja-percebi-que-ha-muitas-pessoas-que.html
    Abraços!

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  3. http://co-mover-se.blogspot.pt/2015/01/ja-percebi-que-ha-muitas-pessoas-que.html

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