O Natal vem aí.


Acabei de chegar a casa dos anos do meu sobrinho. No sábado passado foram os anos da minha sobrinha. Encontros de família. O nome do Tomé só é referido por mim ou pela Biancci às vezes pela Susana. É estranho. É difícil que faça parte da conversa com naturalidade passado pouco mais de um ano. E no entanto quando estamos juntos quase todo o tempo ele está no meu pensamento, de fora ninguém diria.

Dou-me conta que muitas vezes as pessoas evitam o assunto com medo de me magoar... que engano, o que me magoa mesmo é o silêncio. 
Nos anos da minha sobrinha, um familiar dela veio dizer-me que os meus dois filhos são muito bonitos, tive vontade de lhe perguntar se o Tomé agora é feio ou se deixou de ser meu filho. Mas não fiz isso, gosto muito dessa pessoa. 

Quando ia a caminho dos anos senti a presença do Tomé como há bastantes dias não sentia, pensei que levava o Tomé comigo para a festa e apercebi-me que a diferença entre ser considerada louca ou não é apenas calar uma parte do que penso. Imaginei-me a chegar e a dizer, hoje o Tomé veio comigo hoje.... Imagino as caras... grin emoticon a ideia é muito tentadora. 
Mas como me calo não sou louca... ainda. 

Dou-me conta que também eu calo a morte dele, moro há dois meses com duas pessoas que não sabem nada dele, nem fazem ideia do que lhe aconteceu. Nunca lhes disse. Tenho medo que comecem a evitar-me. Tenho medo que não queiram ficar cá em casa. Irónico. 
Ao dar-me conta disso decidi que vou começar a contar às pessoas todas e observar as reacções em vez de tentar prevê-las. 

Hoje dei por mim a chegar a casa de carro e deixar-me ficar com um cansaço imenso, não parecia a mesma pessoa que brincou com as crianças e disse piadas ao jantar. Um cansaço tão grande que ir do carro para casa parecia demais. Lembrei-me de um dia há muitos anos, a mesma sensação exacta à porta de casa da minha mãe, na altura tinha três filhos pequenos em três escolas diferentes, três empregos e uma casa em Santa Iria da Azóia, lembro-me de estacionar e me sentir incapaz de subir e tomar conta deles. De me deixar ficar no carro muito tempo, entre os remorsos de tirar uns momentos para mim e o cansaço extremo.
Tantas mães conhecem isto, mães demais conhecem isto. 

O Natal vem aí. E é muito mais do que prendas e luzes. É também e sobretudo um encontro de famílias, de pessoas. Cada uma com as suas próprias dores e alegrias. É o momento em que em muitas famílias se vão evitar os temas difíceis. Em todas as famílias vão com certeza haver ausências. Vão haver pessoas a evitar falar de saudades e de luto. E outras a evitar perguntar. Tenho a certeza que não estou sozinha quando peço para perguntarem por quem não está, tenham a coragem de fazer a pergunta e a coragem de ouvir a resposta, sem tentar consertar ou dizer algo inteligente. Talvez hajam lágrimas, não nos peçam para não chorar, chorar faz parte e ajuda, se nos permitirem chorar a seguir vão haver risos. Basta ficar presente, escutar, talvez dar um abraço, sorrir, olhar nos olhos. É uma coisa tão rara que garanto que vai ser lembrada com carinho por muito tempo.

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