Hoje foi um dia mesmo bom :) Consegui estar todo o dia com pessoas que compreendem como nos sentimos em relação ao Tomé. Que alivio.
Não tenho dúvida que morrer é um ato público, ninguém fica indiferente. Mexe com emoções e medos e claramente não estamos preparados. Também por isso tentei partilhar assim que possível a forma como estávamos a viver este momento, mas senti que mesmo assim os medos foram mais fortes.
E muitas pessoas entram em pânico e projectam os seus sentimentos em quem está a viver a situação.
Não é por mal eu sei, provavelmente tenho sido até agora uma dessas pessoas.
Até a formula "os meus sentimentos" é absurda, eu já tenho os meus sentimentos, fique com os seus para si por favor. Então para quem quiser saber, é bom esperar antes de enviar sms, mensagem no face ou qualquer outra forma de comunicar. Enquanto estamos sob efeito do choque de ter recebido a notícia as nossas emoções fortes vão ressoar na outra pessoa e fazê-la voltar a um ponto de onde provavelmente já saiu. 
Senti-me nestes tempos como alguém que tenta manter o equilíbrio na corda bamba enquanto alguém a abana constantemente. Não me interpretem mal, fico feliz pelas demonstrações de cuidado e carinho. Não vejo como uma questão pessoal mas como uma coletiva.
Cada vez que alguem fala comigo com pena ou com horror, isso pesa-me. Quase me sinto uma má mãe ou uma pessoa fria por conseguir ver os outros lados do assunto. Ninguém sabe nada do que acontece depois da morte, nada de nada. Há muitas suposições mas nenhuma certeza. Então qual a dúvida de fazer tudo para acreditar no melhor?
Há duas versões para esta história: uma é acreditar que há acidentes estúpidos e que a vida não faz sentido e é injusta, esta deixa-me num sofrimento insuportável, amarga e a maldizer a vida, provavelmente a amargurar todos os que se cruzarem no meu caminho e com alergia à felicidade dos outros. A outra é acreditar que tudo na vida faz sentido, que a vida escolhe sempre o melhor caminho, que a morte pode ser algo pacífico e uma porta para outra dimensão provavelmente mais pacífica e amorosa do que esta, que o meu filho escolheu o seu caminho com o seu livre arbítrio e a sabedoria que sempre teve, e continua comigo de outras formas não físicas. Essa leva-me a uma grande paz, inspira-me a ser uma melhor pessoa, a honrar a vida do Tomé sendo honesta e vivendo com coragem e coração. Para muitas pessoas se eu escolher a primeira sou racional e se escolher a segunda sou uma tonta..... WTF porquê? nenhuma das versões está provada e uma é o caminho do medo e outra a do amor.


Se dói? Doi horrores quando entro na culpa e em pensar se podia ser diferente, dói muito pouco quando entro em amor e em sintonia com ele e com os meus outros dois filhos. 
Se quero ser racional? Não muito obrigada, só quando não consigo evitar. Como dizia alguém "A vida é demasiado preciosa para ser desperdiçada num mundo desencantado" O meu coração acredita em magia e eu acredito no meu coração :D

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