Já tinha partilhado aqui uma parte deste texto, na altura retirei tudo o que tinha a ver comigo, fiquei com vergonha, depois senti que o texto perdia força mas não tive coragem na mesma. Agora sinto que quero partilhá-lo inteiro, no dia em que o recebi, já há um mês, estava muito triste, e ele alegrou tanto o meu coração, ainda agora de vez em quando o releio e me deixa feliz. Não acho de todo que tenha sido eu a dar ao Tomé o que ele tinha, acho que simplesmente não lhe tirei a magia nem a capacidade de se comover e sonhar. Acredito que todas as crianças vêm com asas e também com raízes :) é mais uma questão de não lhas cortar.

"Não sei se está certo estar a escrever-lhe, passei algumas horas a ponderar tanto no que iria dizer como se deveria faze-lo até que me lembrei das suas palavras acerca do que o Tomé lhe tinha ensinado: o coração está sempre primeiro. O meu coração queria falar consigo, e esta foi a forma que eu encontrei para o fazer sem rodeios.
Durante a cerimónia houve várias coisas que deixei por dizer, algumas por não me saber expressar, outras por as querer guardar só para mim, mas uma delas foi por ser a seu respeito, e como tal achei que não era o momento ideal. Afinal não era só uma, eram duas. Ambas um agradecimento, embora a gratidão tenha motivos diferentes.
Agradeço-lhe a sua força. Uma força que me parecia sobrenatural, impossível mesmo, para conseguir suportar uma monstruosidade como esta. A sua capacidade de superar a revolta e conseguir encarar-nos a todos com um sorriso. Todos aprendemos com o seu exemplo. Em vez de se deixar cegar pela dor a Fátima foi capaz de honrar o desejo do Tomé. Tornou estes sentimentos sufocantes suportáveis, tornou as coisas mais simples, de facto tornou o Tomé mais presente ao agir como ele gostaria que agisse-mos. Eu não sei o que se passa por detrás dessa força nem quero fazer suposições, mas tenho a certeza que o Tomé lhe trará conforto, um abraço forte e depois um abanão, para voltar a enfrentar a crueldades de estar vivo. De certa forma acho que passamos a ter a obrigação de viver duas vidas, uma onde alcançamos os nossos objetivos e respondemos às nossas necessidades, outra onde cumprimos as promessas do Tomé através do mundo de cada um de nós.
Agradeço-lhe por ser mãe do Tomé.
Uma mãe educa, ensina, cuida, ama. Uma mãe é corajosa e bonita. Uma mãe faz tudo e é tudo. Uma mãe é uma deusa que veio à terra com uma missão. Se eu acreditasse em Deus, diria que as mães são a maneira de Deus amar.
Garanto-lhe que o que eu vou dizer não é para ser bonito, não é por ser cliché, nem sequer é por ele ter morrido e por coisas destas nos virem à cabeça nestes momentos. O que eu vou dizer, vou dizê-lo por ser verdade, não só para mim como para toda a gente que ele conheceu. O que eu vou dizer é o que eu estava, estou, e estarei a sentir. O Tomé é a melhor pessoa que eu conheço. E eu posso ser só uma criança que não sabe muita coisa, mas há uma coisa que eu sei: o Tomé só era a melhor pessoa que conheço por sua causa.
Eu acredito que um bom coração nasce connosco e não é algo que se possa ensinar. Mas também acredito que os bons corações não vão longe se não lhes derem asas. As asas que a Fátima lhe deu eram tão grandes que podiam planar o quão alto ele as levasse. A Fátima deu-lhe paciência para aceitar os outros, quem quer que os outros fossem. Deu-lhe o poder de ver a razão, mesmo quando ela parecia não existir. Deu-lhe o poder de saber formular os melhores conselhos que eu já ouvi. Deu-lhe a humildade de se preocupar com tudo e todos. Deu-lhe a alegria de viver, tão irreconhecível do Tomé que acho que é mesmo ele quem a personifica. Deu-lhe a capacidade de colocar sempre os seus valores acima do benefício próprio. Deu-lhe uma imaginação repleta de ternura. Deu-lhe um coração gigante capaz de ver uma centelha de bondade até no pequenino coração do Grinch. Um coração tão puro que não há vida que ele não tenha tocado que não lhe nutra carinho. Coração esse que apesar de ter batido pouco tempo viu mais do que tantos outros.
Quando somos adolescentes é comum ouvir-nos dizer o quão chatas as nossas mães podem ser. O Tomé nunca dizia coisas dessas. Mesmo quando estava no auge da sua adolescência ele sabia ver em perspetiva, e fazia o que ele melhor sabia fazer: pôr-se na pele dos outros; e mesmo quando achava que continuava a ter razão, angustiava-o o facto de lhe causar sofrimento. O Tomé amava-a incondicionalmente, eu sei que sabe isto, mas eu quis dizer-lhe, ele disse-mo muitas vezes e eu sempre achei bonita a forma, pouco usual para um rapaz na nossa idade, como ele falava da mãe. Acho que é por causa desse amor que neste momento a Fátima consegue erradicar um brilho que nos envergonha a todos pela nossa fraqueza. É porque o Tomé está sempre consigo, mais do que com qualquer um de nós, e isso vê-se.
 Sabe aquela vozinha na nossa cabeça a quem pedimos conselhos, muitas vezes conselhos extremamente parciais? No passado, e para mim, essa voz era apenas o meu ego arrogante e egoísta, agora essa voz é o Tomé, e digo isto com a maior da sinceridade. O Tomé faz-nos querer ser melhores.
Não sei se a ofendi ou se me intrometi no que não devia. Precisava de me aliviar destes pensamentos e espero que não tenha sido egoísta da minha parte fazê-lo porque a última coisa que eu queria era magoa-la.
Por último, espero que esteja bem dentro do possível e que fique o melhor possível quando lhe for possível. Não sei se lhe poderei ser útil mas se for por favor não hesite em pedir-me o que quiser, prometo que seria o meu maior prazer ajuda-la no que precisar.
Um abraço daqui até Hogwarts, como eu lhe costumava dizer (:

P.S – “Happiness can be found in the darkest of times, if one only remembers to turn on the light.”

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