Dia 12 - Parabéns ao Tomé (atrasados)


Nas semana passada foram os anos do Tomé, e um grande silêncio aqui no blogue. 
O silêncio não aconteceu porque me senti mais triste, pelo contrário, aconteceu porque estive mais envolvida na vida e mais tranquila, e porquê? Penso no Tomé todos os dias do ano, maioritariamente sozinha, assim como outras pessoas que o amam também pensam nele sozinhas, e nos anos dele juntamos-nos e pensamos nele juntas.... é muito melhor :) Por mim podiam ser os anos do Tomé todos os dias. 


Embora não seja católica, o meu imaginário é, tem-me vindo á cabeça uma frase de Cristo: "onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome eu estarei no meio deles". Numa interpretação livre, dei por mim a pensar que se calhar isto é verdade para todos os nossos mortos. Que se cada um de nós que os ama transporta em si um pouco deles, quando nos juntamos a presença é mais intensa. 



Por muito que não queria ter certezas num assunto destes,  a verdadeira razão porque consigo lidar com a morte do Tomé é porque nunca vi a sua morte como o fim da nossa relação, nem dos meus planos em comum com ele para o futuro. Nunca achei e ainda não acho que nunca mais ia poder comunicar com ele. 



O conceito de alma sempre fez parte da minha vida, de formas mais ou menos vagas. Nunca  precisei de ter uma certeza a este respeito até agora. Tenho noção desde pequenina que há coisas que o nosso cérebro não alcança, como infinito e eterno. Em criança tentei imensas vezes visualizar estas duas ideias sem nenhum sucesso. Mas aquilo que não consegui mentalmente, foi muito mais fácil a nível sensorial, em alguns momentos consigo sentir eterno e infinito, desde que não o tente fazer com o meu cérebro. Acho que é assim também com a alma. Algo que não é palpável, mas é "sentível" quando paramos de pensar. Quando vemos com os olhos da alma também.


Ainda assim é muito difícil. No fundo o que me importa não é se o Tomé morreu ou não, nem ele não estar aqui. Ele podia não estar aqui por milhentas razões, o que me importa é não saber se ele está bem. Não ter a certeza toda. Não poder mandar um sms e ter uma resposta... Nos momentos em que custa mais, as lágrimas impedem que o coração seque.

Algumas tradições falam em vários saberes: o que sabemos que sabemos, o que sabemos que não sabemos, o que não sabemos que não sabemos e o que não sabemos que sabemos.  Gosto muito deste conceito das coisas que não sabemos que sabemos. E com isso vem esta realidade que me parece ser partilhada por todos, das coisas que não somos capazes de fazer, mas fazemos na mesma. Como dar à luz, ser mãe, o luto e morrer. Um conjunto que parece dispar mas se calhar não é.
Talvez seja esse o mistério que nos ajude a fazer coisas que teóricamente não conseguimos. Como atravessar crises monumentais e superar-se perante as adversidades.

E estas várias facetas que nos ensinaram que se excluem, mas que obviamente coexistem em nós  humanos... estar bem e mal. Ter coragem e não ter, acreditar na alma e sofrer com a morte. Estar completamente tranquila e totalmente ansiosa. As contradições normais da natureza  humana. E quem sabe da divina. Esta coisa de sermos muitos mundos dentro de um só. Um arco-iris de realidades feito pessoa.

E no fim disto como no principio, parabéns ao Tomé que está simultâneamente ausente e  presente. Que é amado em várias dimensões e que quando atravessa a minha realidade do momento o faz como uma brisa fresca e brincalhona e ainda assim séria e profunda. Não vou tentar agarrar-te, porque suspeito que me escaparias pelos dedos, vou apenas respirar-te, pressentir-te, cintilar contigo sempre que puder. 

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