Dia 8 - A capa da invisibilidade



Ontem de manhã finalmente o video acima ficou online. Escrevi quando o partilhei que me sentia super embaraçada, e sinto. Não me sinto nada embaraçada se estiver a defender o projecto de outra pessoa, é-me muito fácil. Mas acho que é a primeira vez na vida que dou a cara em público a promover algo tão pessoal. Sempre fugi da visibilidade a sete pés. 

O segredo é que no fundo sou anti-social e um bom bocado introvertida. Se dou a sensação contrária é apenas porque se tornou mais fácil ser assim. As pessoas implicam com os nerds e não com os sociáveis e um nerd pode em caso de perigo fazer de conta que é sociável, mas não é por isso que deixa de ser um nerd. E esta é a verdade verdadeira: tenho medo das pessoas. 

A única coisa que me leva a enfrenta-las é a paixão, tenho paixão pelo meu trabalho, tenho paixão por escrever. Tenho o amor pelo Tomé. Sem o que se passou não teria saído do meu cantinho confortável e seguro. Não sei como, senti logo que este seria o desafio. Que era isto que me era pedido. Talvez a coisa mais desafiante que podia ser. Eu realmente preferia continuar escondida. As pessoas não te agridem se te acharem inofensiva, mas se lhes falares do que não querem ouvir o caso muda de figura. E agora estou em pânico, mesmo. Como com a Tomévana, adoro mas estou apavorada de cada vez que a conduzo. É tão grande (e tão linda), terei mãos para ela? Eu que sou uma despassarada da estrada.
A capa da invisibilidade

No primeiro dia em que a conduzi ia com a Ariane e o Luan, os planos eram de sair cedo e chegar ainda de dia, as voltas trocaram-se e saímos já de noite. Para juntar à festa perdemos-nos e apanhámos a estrada de Sintra para Mafra, quem conhece sabe as curvas manhosas ao lado de um precipício, suei frio a descer a dez à hora a tentar fazer as curvas sem sair da minha faixa. A Ariane comentou que eu não tenho medo de nada, ou algo parecido: tenho imensos medos, sou mesmo muito medrosa, quem me conhece sabe que tenho medo de conduzir. A verdade (outra vez) é que sou super medrosa, de tal maneira que se não fizesse nada que me faça medo, fazia pouquissima coisa. 

Este texto é mesmo dificil de escrever... Acredito que o que aprendi com muita gente e muito, muito com o Tomé, nestes anos em que nos educámos um ao outro, pode ser útil a outras pessoas. Acredito que contar a história verdadeira, a que inclui as partes embaraçosas e a vulnerabilidade, é muito, muito importante, e também sei que contar essa história, num contexto em que as pessoas escondem essas partes de si, não é inócuo. Tenho ideia que o Tomé tinha pouco medo disso, de ser vulnerável. As nossas vulnerabilidades eram amiguinhas, apoiavam-se uma à outra, entre nós houve muito espaço para elas. Para fazer mudanças precisamos em simultâneo de vulnerabilidade e coragem. E às vezes caímos.

Ele era mais corajoso do que eu, e em homenagem a ele eu vou tentando ser mais corajosa. Dar a cara pelo que vale a pena. Contar as histórias que importam. Ouvir as  histórias que importam. Sinto que já estou acompanhada neste processo, as histórias vão chegando, e ainda mal estamos a começar. Como diz a Brenné Brown de quem gosto tanto:

"Vulnerabilidade não é ganhar ou perder: é ter a coragem de se expor e ser visto quando não temos controle sobre o resultado. Se formos suficientemente corajosos e se o formos com alguma frequência, haveremos de cair: essa é a física da vulnerabilidade. Assim que caímos, porque quisemos ser corajosos, não há como voltar para trás. Não é possível transformar um processo emocional, vulnerável e corajoso numa formula fácil de tamanho único. A coragem é contagiosa."





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