Uma prenda da Dina - A morte toca-nos
Beijinhos,
Dina
A morte toca-nos
Toca-nos e embrulha-nos e torna claro o que é escuro, ilumina os cantos da nossa visão com uma clareza cruel.
Sim, toca-nos, rodeia-nos e de vez em quando chega demasiado perto, inesperadamente. Quando nos despedimos de uma avó é doloroso mas é protocolar, esperado. Mas, por vezes, apanha-nos por trás, inesperadamente vem e colhe quem Deus mais ama.
É um baque, é um grito, é perceber que não estamos a salvo. Que nunca estamos a salvo até estarmos efetivamente mortos.
A minha morte nunca me atormentou; a minha morte quase a tenho desejado. Vivo algo penosamente, não sou muito alegre, de facto. Temo a dependência, o abandono, a dor, mas não a morte.
Mas sou mãe. Sou mãe há 14 anos. E desde que sou mãe temo a morte. Não, nem costumo pensar nisso, nem vale a pena pensar nisso. Mas depois morre o filho de alguém.
Vem perto e eu fico toda amedrontada. Fico a sentir a dor daquela mãe, fico a achar que a Sofia podia passar 6 meses sem lavar a cabeça e o Duarte podia fazer uma maratona de jogos on-line. Não interessa, meu Deus, nada interessa mesmo. Aqueles filhos, aquela carga de trabalho são os meus filhos. Amo-os tanto, tão perdidamente!
Perdoa-me todos os disparates que penso e, às vezes, digo. Perdoa-me e não os faças pagar pelos meus disparates.
É só isso, eu sei que Entendes que às vezes estou no limite, já passei o limite. E levanto-me, oriento as coisas. Faço umas refeições assim-assim. Abraço-os. Zango-me. Ponho limites. Abraço-os outra vez. Desconfio que só vão custar os abraços que não dei.
E é isto. O Tomé morreu faz 15 dias. É filho de uma amiga. Eu não sabia. Estou aflita. Eu sei o que a morte me pede. Eu sei. Pede-me que viva. Só isso. Que viva a felicidade possível Aquele filhos lindos, os meus quilos a mais, o que tenho e me perdoe, meu Deus, a mim própria.
Um abraço Fátima, um beijo. Essa raiva toda que sentes por nós é natural. É essa raiva que te mantém de pé. Hang on.
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